3.6 Flores que nascem por dentro
Outro dia li que os figos têm suas flores nascidas por dentro e isso me intrigou. Encontrei poesia nesse conhecimento.
Achei tão poético que consegui relacionar a informação com a vida da minha mãe. O figo é, na verdade, uma flor invertida, que floresceu internamente.
Então, quando comemos figos estamos comendo flores amadurecidas que o tornam do jeito como conhecemos.
Simbolicamente costumamos dizer que uma pessoa é uma flor pela sua delicadeza, beleza, suavidade, naturalidade, encanto. Seus gestos traduzem essas características e fazemos tal relação.
Assim era minha mãe Nair. Já enxergávamos externamente muitas flores nela, em cada gesto, cada cuidado, cada fala mansa. Tinha dias que era roseira. Em outros era orquídea. Ainda podia ser uma margarida ou tulipa. Uma samambaia ou girassol.
E ainda, metaforicamente falando consigo ver suas flores internas. Como o figo também fora polenizada pelas “vespas” da vida, advindas das dificuldades e provações que fizeram com que tivesse desenvolvido lindas flores por dentro.
Flores amadurecidas viraram confiança, bondade, tolerância, amorosidade, honra, humildade, valentia e tantas outros enfeites primorosos.
E aqui, escrevendo entendo porque o doce de figo feito pela minha mãe era um dos meus preferidos. Aqui, recordo a colheita e o preparo minucioso que ainda enlaçam meu desejo de experimentar o doce das verdes frutas que me ajudam a acalmar a saudade dela.
Ainda posso lembrar do quanto me lambuzava naquela delícia tão peculiar e adoçada numa medida acariciante e amorosa.
Fica aqui a lição de que as “vespas” da vida não nos autorizam a nos tornarmos secos ou duros por dentro.